11 outubro, 2008

Herberto Helder - a faca não corta o fogo


Herberto Helder, um dos maiores poetas portugueses vivos, publicou quinta-feira , dia 9 de Outubro, um novo livro, intitulado A Faca não Corta o Fogo -- súmula & inédita, editado pela Assírio & Alvim.

O livro reúne uma parte da reescrita da sua obra anterior e alguns inéditos, tem 207 páginas de poesia e uma capa ilustrada por Ilda David, em tons de azul e amarelo.

De Herberto Helder, um poeta que deu a última entrevista em 1968, que recusou o Prémio Pessoa em 1994 e que vive em auto-reclusão, pouco se sabe, além de que se chama Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira, nasceu no Funchal, a 23 de Novembro de 1930, e reside em Lisboa, com a mulher, Olga.
Frequentou, a partir de 1949 e durante três anos, o curso de Filologia Românica da Faculdade de Letras de Lisboa, mas não o concluiu.

Em 1954, publica o seu primeiro poema, em Coimbra.

Em 1958, publica o seu primeiro livro, O Amor em Visita.
Nos anos seguintes viveu em França, Holanda e Bélgica.

Regressa a Portugal em 1960, torna-se encarregado das bibliotecas itinerantes da Fundação Calouste Gulbenkian, profissão que o fez percorrer vilas e aldeias do Baixo Alentejo, Beira Alta e Ribatejo.
Em 1961 e 1962, edita os livros A Colher na Boca, Poemacto e Lugar.

Em 1963, começa a trabalhar para a Emissora Nacional como redactor do noticiário internacional e publica Os Passos em Volta.
Em 1968, envolve-se na publicação de um livro sobre o Marquês de Sade, que desencadeia um processo judicial em que foi condenado.
Em 1971, vai para Angola trabalhar numa revista. Como repórter de guerra, sofre um grave acidente e fica hospitalizado três meses.
Regressa a Lisboa e parte novamente, agora para os Estados Unidos, em 1973, ano em que publica Poesia Toda, reunindo a sua produção poética até à data, e faz uma tentativa falhada de publicar Prosa Toda.
A Portugal, voltaria só depois do 25 de Abril, já em 1975, para trabalhar na rádio e em revistas, como meio de sobrevivência, tendo sido editor da revista literária Nova, de que se publicaram apenas dois números.
Depois de publicar, nos anos seguintes, mais algumas obras, entre as quais Cobra (1977), O Corpo, o Luxo, a Obra (1978) e Photomaton & Vox (1979), remete-se ao silêncio.

Pede aos amigos que não falem dele num documentário que António José de Almeida pretende realizar para a RTP2, em 2007.
O documentário, "Meu Deus, faz com que eu seja sempre um poeta obscuro", acabou por ser feito, mas apenas adensou o mistério em torno da figura do poeta, já que 17 das 29 pessoas contactadas pela produção se recusaram a dar o seu testemunho.

Sobre o novo livro de Herberto, disse o poeta Gastão Cruz à Lusa: "Não sei o que espero, somente que se situe, como decerto acontecerá, no nível da sua restante obra poética".
Por sua vez, Helder Macedo sublinhou: "Qualquer publicação do Herberto Helder tem a importância que o Herberto Helder tem. Ou seja, uma enorme importância".

O Jornal de Letras dedica-lhe quatro páginas e publica um excerto de um dos inéditos:

isto que às vezes me confere o sagrado,
quero eu
dizer: paixão: tirar,
pôr, mudar uma palavra, ou melhor: ficar
certo
com vírgula no meio da luz,
dividindo,
erguendo-me do embrulho da carne
obsessiva:
que eu habite durante uma espécie de
eternidade
o clarão -
isto não o entendo, esta pancada desferida
no máximo concreto: copo,
cigarros,
o livro, e do próprio meu: a ininterrupta
amargura da memória, o tão pouco de
quente respiração - isto
eu não entendo (...)

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