27 julho, 2010

Mário de Carvalho e Valter Hugo Mãe em Sines







Mário de Carvalho e Valter Hugo Mãe estiveram, ontem e hoje respectivamente, em Sines para apresentação dos seus últimos livros. Estas iniciativas estão integradas na programação do FMM 2010 em parceria com a livraria A das Artes. Foram dois momentos muito agradáveis, que nos fizeram esquecer o calor estonteante destes dias.



24 julho, 2010

Feira do Livro e do Disco - FMM Sines


Fase I: 24 a 27 de Julho | 11h00-19h00 e 21h30-23h00 | Centro de Artes – Casa Preta Fase II: 28 a 31 de Julho | 18h00-02h30 | Capela da Misericórdia de Sines Parceria Câmara Municipal de Sines / livraria a das artes / VGM

Numa associação entre a Câmara Municipal de Sines, a livraria a das artes e a VGM, terá lugar uma feira do livro e do disco com as mais recentes novidades editoriais no mercado português e uma selecção de discos de músicas do mundo, clássicos e contemporâneos. Música e actividades associadas à promoção do livro, da leitura e da narração oral animam a feira.


Animação da feira

KARINGANA REGGAE, PELO BICA TEATRO Centro de Artes de Sines – Esplanada da Casa Preta | 24 de Julho | 19h00 | Dur. 45m

Karingana Reggae

Título de um livro do poeta moçambicano José Craveirinha, “Karingana Wa Karingana” equivale à forma portuguesa “era uma vez”. Neste espectáculo inaugural da feira conta-se contos dos países de língua portuguesa.

CONTOS DE TANTOS MUNDOS Centro de Artes de Sines – Exterior | 24 a 31 de Julho

Contos de Tantos Mundos

No exterior do CAS está disponível uma selecção de contos de todo o mundo e um pequeno palco. Ao jeito de um “speaker’s corner”, perca os medos, escolha um conto e partilhe-o com quem passa.

SESSÃO DE CONTOS, COM ANA LAGE Centro de Artes de Sines – Exterior | 26 de Julho | 17h30 | Dur. 60m

Ana Lage

Ana Lage é uma contadora de excepção. Nessa sessão, com a duração de uma hora, associa-se ao FMM, contando contos tradicionais de vários pontos do planeta.

CLUB 33 JAM SESSION Centro de Artes de Sines – Esplanada da Casa Preta | 26 de Julho | 21h00 e 23h00 | Org. Assoc. Pro Artes de Sines. Iniciativa inserida no Programa de Regeneração Urbana de Sines

Jam SessionO Club 33 vai à esplanada do Centro de Artes de Sines. Uma banda lança o mote para que num ambiente de criatividade espontânea se juntem todos aqueles que queiram participar e assistir a uma “jam session”

inhttp://fmm.com.pt/programa/iniciativas-paralelas/feira-do-livro-e-do-disco/

22 julho, 2010

Iniciativas paralelas no FMM, Sines

Sábado, começa a Feira do Livro e do Disco, uma parceria entre a Câmara Municipal de Sines, a livraria a das artes e a loja VGM. A primeira fase da feira decorre entre 24 e 27 de Julho, na Casa Preta do Centro de Artes de Sines, nos horários 11h00-19h00 e 21h30-23h00.

Durante estes primeiros dias, a feira tem várias iniciativas de animação. No sábado, 24 de Julho, às 19h00, o Bica Teatro apresenta “Karingana Reggae”, um espectáculo com contos dos países de língua portuguesa. Segunda-feira, dia 26, às 17h30, realiza-se uma sessão de contos de todo o planeta, com Ana Lage. No mesmo dia, às 21h00 e às 23h00, acontecem jam sessions Club 33, iniciativa da Associação Pro Artes integrada no Programa de Regeneração Urbana de Sines.

Ainda no sábado, 24 de Julho, às 10h00, no relvado junto ao Laboratório de Ciências do Mar (Av. Vasco da Gama), o Teatro do Mar apresenta o espectáculo de teatro de bonecos para a infância “O Pincel Mágico”, baseado no conto tradicional chinês “Ma-Liang”. É uma iniciativa integrada no Programa de Regeneração Urbana de Sines.

Numa parceria entre a Câmara e a livraria a das artes, acontecem dois encontros com escritores. No dia 26 (segunda-feira), visita-nos Mário de Carvalho e, no dia 27 (terça-feira), valter hugo mãe. Ambas as sessões decorrem na esplanada da Casa Preta do Centro de Artes, às 18h30.

A primeira fase do ciclo de cinema documental está marcada para entre 24 e 27 de Julho, com projecções nocturnas na esplanada da Casa Preta do Centro de Artes de Sines. Os filmes a projectar entre sábado e terça-feira são os seguintes: “Ao encontro das músicas do mundo em Sines”, de Paulo Nobre (24 de Julho, às 21h30); “Excursão”, de Leonor Noivo, e “Visita Guiada”, de Tiago Hespanha (25 de Julho, às 21h30); “A casa que eu quero”, de Joana Frazão e Raquel Marques (26 de Julho, às 22h00); “Canto da Terra d’Água”, de Adriano Smaldone e F. Giarrusso, e “O lago”, de André Marques (27 de Julho, às 21h00).

Os primeiros ateliês para crianças dos 6 aos 12 anos decorrem no Auditório do Centro de Artes, nos dias 26 e 27 de Julho, às 11h00, com o grupo timorense Galaxy.

No dia 27 de Julho acontecem as iniciativas da extensão de Sines do Festival Escrita na Paisagem, um projecto Escrita na Paisagem / Colecção B / Câmara Municipal de Sines. Às 19h30, no Centro Histórico de Sines, Elliot Mercer, bailarino e coreógrafo norte-americano, com Márcio Pereira & Amigos, faz uma homenagem ao grupo de bailarinos Judson Dance, que revolucionou a dança contemporânea. Às 22h30, no Auditório do Centro de Artes de Sines, há música electrónica improvisada pelo grupo PGT – Pender, Garton, Taylor + Convidados.

Quem visitar o Centro de Artes de Sines e o Centro Cultural Emmerico Nunes pode também visitar, todos os dias, entre as 14h00 e as 20h00, a exposição “A Secreta Vida das Palavras”, que tem como ponto de partida a relação de Al Berto, poeta de Sines e do mundo, com as imagens. Comissariada por João Pinharanda e reunindo obras de alguns dos mais consagrados e promissores artistas contemporâneos portugueses, a exposição estará patente até 25 de Setembro. É uma parceria e co-produção entre a Câmara Municipal de Sines e o Centro Cultural Emmerico Nunes.

No dia 28 de Julho começam os concertos no Castelo e na Avenida Vasco da Gama e continua o programa de iniciativas paralelas.

Todos os detalhes disponíveis no site oficial do FMM

18 julho, 2010

Al Berto

Lírios de Van Gogh

No centro da cidade, um grito. Nele morrerei, escrevendo o que a vida me deixar e sei que cada palavra escrita é um dardo envenenado. Tem a dimensão de um túmulo e todos os teus gestos são uma sinalização em direcção à morte.
Mas hoje, ainda longe daquele grito, sento-me na fímbria do mar. Medito no meu regresso.
Possuo para sempre tudo o que perdi, e uma abelha pousa no azul do lírio, e no cardo que sobreviveu à geada.
Penso em ti...
Bebo, fumo, mantenho-me atento, absorto
– aqui sentado, junto à janela fechada.
Ouço-te ciciar amo-te pela primeira vez,
e na ténue luminosidade que se recolhe ao horizonte acaba o corpo.
Recolho o mel, guardo a alegria, e digo baixinho:
Apaga as estrelas,
vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge.


Al Berto, in Lunário

17 julho, 2010

FMM - Guia 2010

The Rodeo (Dorothée) no FMM




Sophie Hunger

Bernard Giraudeau est mort


Né le 18 juin 1947 à La Rochelle (Charente-Maritime), fils de militaire, Bernard Giraudeau s'engage à 15 ans dans la Marine nationale et fait deux fois le tour du monde à bord de la Jeanne d'Arc. S'il exerce divers métiers aux Halles ou dans une agence de publicité, il commence le théâtre à La Rochelle à 20 ans. Il s'inscrit au Conservatoire de Paris, où il obtient un premier prix de comédie classique et moderne (1974). Il apparaît au côté de Jean Gabin en 1973 dans le polar de José Giovanni "Deux hommes dans la ville", puis enchaîne dans son registre préféré, la comédie -- "Et la tendresse, bordel?" (1978), "Viens chez moi, j'habite chez une copine" -- où il rencontre le succès. Capitaine séducteur dans "Passion d'amour" (1980), d'Ettore Scola, Bernard Giraudeau passe du héros romantique au loubard, justicier solitaire dans "Rue Barbare" (1983), qui le révèle au grand public. Souvent comparé à Gérard Philipe, il démontre dans ces rôles plus dramatiques, son extraordinaire capacité de métamorphose. Le flic alcoolique qu'il joue dans "Poussière d'ange" (1987) un polar crépusculaire d'Edouard Niermans, préfigure ses personnages antipathiques ou ambigus des années 90 : prélat poudré ("Ridicule"), patron pervers ("Une affaire de goût"), beauf homosexuel ("Gouttes d'eau sur pierres brûlantes"), psychopathe diabétique ("Ce jour-là"). Parallèlement, Bernard Giraudeau retourne régulièrement sur les planches où il a débuté en 1971 à Paris avec Jacques Fabbri dans "Pauvre France". Réalisateur de deux longs-métrages ("L'Autre", 1990 et "Les Caprices d'un fleuve", 1996) et de documentaires, il mène aussi une carrière de romancier à succès avec "Le Marin à l'ancre" (2001), "Les Hommes à terre" (2004) et "Les femmes de nage" (2007). Atteint d'un cancer du rein en 2000 puis du poumon cinq ans plus tard, il témoignait avec courage, dans les média, de sa vie avec la maladie. En juillet 2009, le comédien avait lu des lettres du poète Cesare Pavese, au festival de la correspondance à Grignan (Drôme). Chevalier de la Légion d'honneur, Bernard Giraudeau a eu deux enfants de la comédienne Anny Duperey, Gaël et la comédienne Sara, qui a remporté le Molière 2007 de la révélation féminine théâtrale.

in rtl.fr

08 julho, 2010

a fruta que se queria cristalizada de João Negreiros




a fruta que se queria cristalizada

não sei qual é o tempo da fruta

como o que me dão
sem pensar na hora a que o Sol se põe

as castanhas congeladas do verão sabem-me bem

os diospiros podres da primavera também

não sei quando acaba a época

não sei quando começa a nova

e na minha época também não encontro espaço

finjo maduro sem saber se verde

e amoleço com a mágoa de quem devia ser duro

não sei a que horas devo dar sumo nem como me hei-de chamar

tenho a dificuldade de me reconhecer a origem

a idade

o sabor

o sangue

tenho o medo de me mandar analisar

podia ser obrigado a cortar-me todo e a secar aos bagos

às rodelas

aos nacos

sou a fruta de época que vem a seguir à carta dos gelados
escrita à mão pelo gerente do restaurante que fechou

sou a fruta sem época

sem sumo

sem sabor

e com caroços e pevides a fazer de lágrima

gota de gelo escorre

bochecha da lagarta morta

vai à melopeia da arca das consequências

a que me quer frio para conservar um tempo sem gente

sem árvores

sem chão

e sem os meninos que estiveram para me roubar

aqui está muito frio

ninguém me vai comer

e eu queria

queria a boca que me quebrasse o jejum

me lambesse as feridas

me chupasse as veias

me fizesse as ideias em gomos

e não vem

a boca não vem e imagino-me no palácio quente de marfim a matar-me por todo o lado

mastigando-me por todo o lado

desconjuntando-me por todo o lado para me acabar a eternidade que demora tanto

não tenho validade

não sei a validade

morri por dentro

sou incomestível como a sobremesa fria do natal

e levo as pontas dos dedos a tremer há décadas

se ao menos tivesse luvas

se ao menos tivesse dedos

se ao menos soubesse o que é a lareira

se ao menos me lembrasse da árvore

se ao menos soubesse esperar

se ao menos tu existisses com fome e me amasses com fome eu desfazia-me na tua língua e dava-te o sumo seco azedo de quem
de quem não sabe

de quem não foi convidado para a ceia

de quem não tem família

nem amigos

e que vai levar a vida

e o que falta da morte a tiritar no frio e a implorar pelo fim

in a verdade dói e pode estar errada, de
João Negreiros

06 julho, 2010

Morreu Matilde Rosa Araújo


A escritora Matilde Rosa Araújo, que morreu hoje aos 89 anos, ficará para sempre ligada à docência, à literatura infantil e à defesa dos direitos das crianças numa longa e premiada carreira literária.

Nos seus livros, a autora centrou-se sempre em três grandes eixos de orientação: a infância dourada, a infância agredida e a infância como projecto.

Em 2004, quando recebeu o Prémio de Carreira da SPA, Matilde Rosa Araújo afirmou à Lusa que "os jovens lhe ensinaram uma espécie de luz da vida", porque "o seu olhar é de uma verdade intensa e absoluta".
Entre os seus livros mais importantes para a infância contam-se "Os direitos das crianças", "O palhaço verde" e "O livro da Tila", nome pelo qual era conhecida entre os amigos.

Matilde Rosa Lopes de Araújo nasceu a 20 de Junho de 1921 numa Lisboa ainda rural, na quinta dos avós em Benfica, foi aluna de Jacinto do Prado Coelho e Vitorino Nemésio e colega de Sebastião da Gama, Luísa Dacosta, David Mourão-Ferreira e Urbano Tavares Rodrigues.

Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica (1945) com uma tese em que o jornalismo era objecto de análise académica.

Enveredando pela carreira docente, foi professora do primeiro Curso de Literatura para a Infância na Escola do Magistério Primário de Lisboa, bem como do Ensino Técnico Profissional em diversas cidades do país: Lisboa, Barreiro, Portalegre, Elvas e Porto, onde ficou efectiva.

Ávida pelos jornais, Matilde Rosa Araújo foi colaboradora da imprensa nacional e regional, como A Capital, O Comércio do Porto, República, Diário de Lisboa, Diário de Notícias e Jornal do Fundão e nas revistas Távola Redonda, Graal, Árvore, Vértice, Seara Nova e Colóquio/Letras.

Defensora dos direitos das crianças

Desde cedo preocupada com os direitos das crianças, tornou-se sócia fundadora do Comité Português da UNICEF e do Instituto de Apoio à Criança e escreveu inúmeras vezes sobre a interesse da infância na educação e na criação literária para adultos e acerca da utilidade da literatura infanto-juvenil na formação dos mais novos.

Apesar da sua actividade em diferentes campos, foi sobretudo como escritora que Matilde Rosa Araújo se tornou mais conhecida, dado ter desenvolvido intensa actividade literária para o público adulto e infanto-juvenil, obtendo nesta área diversos galardões e tendo vários volumes publicados no estrangeiro.

A sua estreia na literatura teve lugar em 1943 com "A Garrana", uma história sobre a eutanásia com a qual venceu o concurso "Procura-se um Novelista", do jornal O Século, em cujo júri de encontrava Aquilino Ribeiro.

Para o público adulto escreveu também "Estrada Sem Nome", obra galardoada num concurso de contos da Faculdade de Letras, "Praia Nova", "O Chão e as Estrelas" e "Voz Nua".

Na literatura para crianças, o primeiro título publicado foi "O Livro da Tila" (1957) - escrito nas viagens de comboio entre Lisboa e Portalegre, onde leccionava, e cujos poemas foram musicados por Lopes Graça.

Seguiram-se "O Palhaço Verde", "História de um Rapaz", "O Sol e o Menino dos Pés Frios", "O Reino das Sete Pontas", "História de uma Flor", "O Gato Dourado", "As Botas de Meu Pai", "As Fadas Verdes" e "Segredos e Brincadeiras" e os mais recentes "A saquinha da flor" e "Lucilina e Antenor", entre cerca de quatro dezenas de títulos.

Com ela colaboraram várias gerações de ilustradores portugueses, de Maria Keil a Gémeo Luís e a João Fazenda.

Em 2009, foi publicada a obra "Matilde Rosa Araújo - um olhar de menina", uma biografia romanceada da escritora com texto de Adélia Carvalho e ilustração de Marta Madureira.

Membro da Sociedade Portuguesa de Escritores (actual APE), Matilde Rosa Araújo ocupava um cargo directivo quando, em 1965, a instituição premiou o angolano José Luandino Vieira, então preso no Tarrafal, o que levou a PIDE a invadir as instalações e a demitir a direcção.

Carreira premiada

O Grande Prémio de Literatura para Criança da Fundação Calouste Gulbenkian (1980), que lhe foi atribuído ex-aequo com Ricardo Alberty, foi um dos primeiros entre os muitos que a sua obra literária viria a conquistar.

Em 1991, recebeu o Prémio para o Melhor Livro Estrangeiro da Associação Paulista de Críticos de Arte de São Paulo, Brasil, por "O Palhaço Verde", e cinco anos depois viu a obra de poesia "Fadas Verdes" ser distinguida com o prémio Gulbenkian para o melhor livro para a infância publicado no biénio 1994-1995.

Já em 1994, Matilde Rosa Araújo fora nomeada pela secção portuguesa do IBBY (Internacional Board on Books for Young People) para a edição de 1994 do Prémio Andersen, considerado o Nobel da Literatura para a Infância.

Em 2003, a escritora foi ainda condecorada, a 08 de Março, Dia da Mulher, pelo Presidente Jorge Sampaio, e em Novembro a Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) decidiu, por unanimidade, agraciá-la com o Prémio Carreira (entregue em Maio de 2004), pela sua "obra de particular relevância no domínio da literatura infanto-juvenil".

"É uma generosidade muito grande por uma carreira que me deu mais a mim do que eu dei a ela", disse a escritora à agência Lusa na altura em que recebeu o prémio da SPA.

Matilde Rosa Araújo - que dizia conhecer dezenas de estabelecimentos de ensino do continente e ilhas - mantém-se viva através da Escola Básica 2,3 de São Domingos de Rana e da Biblioteca Municipal de Alcabideche, em Cascais, que foram baptizadas com o seu nome, tal como sucedeu a um prémio revelação na literatura infantil e juvenil instituído pela autarquia daquela vila em 1998.

01 julho, 2010

um poema de Al Berto



Casa

durante a noite
a casa geme agita-se e arrefece
no interior frio do olho da tua sombra sentada
na cadeira aparentemente vazia

esperas acordado sem sono
que a temperatura da casa se funda
com a temperatura incerta do mundo
depois
escreves exactamente isto: o horror dos dias
secou contra os dentes - e rouco
dobrado para dentro do teu próprio pensamento
ferido
atravessas as sílabas diáfanas do poema

levantas-te tarde
atordoado
para extinguires o lume ateado
junto à memória da casa - respiras fundo
para que o gelo derreta e afogue
a vulgar noite do mundo

olhas-te no espelho
atribuis-te um nome um corpo um gesto
dormes
com a árvore de saliva das ilhas - com o vento
que arrasta consigo esta chuva de fósforo e
estes presságios de tranquilos ossos

Al Berto in Horto de Incêndio